Os Companheiros da Penumbra
Há um tempo em que o mundo parece um lugar aberto a todas os sonhos e possibilidades e, simultaneamente, o destino onde os nossos medos moram, à espera de se tornarem a realidade. Um tempo em que forjamos carácter, conjugamos forças, exorcizamos destinos marcados. Procuramos companhia para a viagem, naqueles com quem podemos partilhar códigos indecifráveis para a maioria e uma imparável vontade de não nos vermos diluídos na multidão.
Esse tempo chama-se juventude e é nela, que de uma forma empolgante, Nunsky nos leva a mergulhar no seu “Companheiros da Penumbra”.
É desse tempo, em que podíamos ser músicos, editores, organizadores de espectáculos, estilistas, realizadores de cinema, autores de banda desenhada, sem ter de gastar uma vida em cada uma dessas vocações, que nos fala esta banda desenhada ímpar. Anos feitos de conspirações à mesa do café, sessões de cinema em casa de amigos, palcos improvisados em casas de alterne, incursões ao Portugal “real”, excessos e amores suspirados, conquistas e derrotas amargas. Mesmo para quem não se entregou às trevas da nação gótica, mas abraçou uma qualquer tribo urbana, “Companheiros da Penumbra” é um local perfeitamente reconhecível, nostalgicamente familiar.
Até porque esta é uma viagem a um Porto muito diferente da cidade conquistada pelo turismo de hoje. Um tempo de passagem em que especialmente a Sé e a Ribeira, mas também os centros comerciais decadentes, encontravam novos habitantes nas hordas de juventude que iam enchendo bares e discotecas, onde antes havia armazéns e estabelecimentos comerciais. Nessa altura, a cidade, com todas as suas promessas adiadas de cosmopolitismo, pertencia-lhes, era o lugar onde se erguia alto a bandeira do direito à diferença.
Nunsky consegue unir isto tudo com um traço distintivo e sólido e com uma banda sonora irrepreensível, que faz de “Companheiros da Penumbra” um excelente parceiro para regressar a esses tempos negros e brilhantes.
“All we ever wanted was everything
All we ever got was cold”
—Bauhaus
—David Pontes
Programa do dia 10 de Fevereiro
Inauguração da exposição Companheiros da Penumbra, Sábado, dia 10 de Fevereiro, na Galeria Mundo Fantasma.
Pelas 15h00, uma conversa em torno desta BD e da cena alternativa do Porto dos anos 80/90, com a presença de Esgar Acelerado (editor de fanzines e de discos), Carlos Moura (alternador de discos), José Alberto Pinheiro (professor e ex editor de fanzines) e Miguel T. (proprietário da Piranha, ex-Peresgótika Records e Fanzine, ex-O Arco do Cego — programa de rádio).
A decorrer das 10h00 às 19h00, Mercado do Contra de Fanzines e Banda Desenhada, com a presença de André Caetano, Ricardo Baptista, Umbra, Pedro Moura, Associação Tentáculo, Paulo J. Mendes, Gorila Sentado, Cão Raivoso, Sama, Colectivo Goteira, Palpable Press, Diogo Campos, Hugo Teixeira, Mundo Fantasma, Luffy Fernandes, Bia Miranda, Marco Mendes, Turbina, Magma Bruta, Chaputa! Records e Music & Riots.
Galeria de BD e Ilustração Mundo Fantasma — O Retomar
A BD, desde sempre, construiu uma dança animada entre a literatura e as artes plásticas. Não é de admirar, portanto, que a uma Livraria se associe uma Galeria de Arte. Celebrar na BD os livros e as histórias é também celebrar e dignificar a arte associada. E se as obras nascem para ser lidas, se a narrativa é a essência da banda desenhada, a arte que a serve é crucial no fluir e fruir dessa narrativa. Sabemos que nem sempre os originais foram valorizados e a história da BD está cheia de trabalhos deitados ao caixote do lixo das tipografias.
Mas, como em tudo, a evolução acontece e, actualmente, os originais de uma BD atingem — por vezes — valores astronómicos no mercado especializado.
A Galeria de BD e ilustração Mundo Fantasma nasceu assim como projecto paralelo à Livraria e fruto do interesse de três parceiros, interessados na BD.
Ao longo dos últimos 15 anos, o projecto passou por várias fases e contou com várias colaborações. Tirando os últimos anos, devido ao flagelo da pandemia, a actividade foi intensa. E não só tocou artistas portugueses, dos mais conhecidos aos mais alternativos, como — por diversas ocasiões — pode contar com exposições e presenças de artistas internacionais numa actividade polifacetada com o desenho e a narrativa gráfica como centro.
Com o iniciar de um novo projecto a Galeria reposiciona-se num triângulo com a Livraria e a Bedeteca garantindo sinergias e novas vidas.
O retomar de actividade deu-se já com a exposição Variantes – Homenagem à BD Portuguesa e terá seguimento com a exposição dedicada ao vivido testemunho que é Companheiros da Penumbra (de Nunsky). O programa de 2024 será integralmente centrado em autores e obras nacionais, e com centro na região onde nos inserimos.
Para demonstrar a vivacidade da BD e para garantir que a narrativa literária e a arte visual que a serve nos permitem vários olhares e leituras.
—Júlio Moreira
Clube de Leitura: Palestine de Joe Sacco
O Goteira – Colectivo de BD aceitou o convite da Bedeteca para animar um Clube de Leitura em torno de obras de Banda Desenhada. A primeira sessão é já no dia 17 de Fevereiro, pelas 17h00 na Bedeteca.
E o livro escolhido para abrir é: Palestina de Joe Sacco.
Poderão inscrever-se no site de A Goteira.
Kael Finds the Lost Bedeteca
—Daniel da Silva Lopes
Notas de Rodapé
Ainda estão abertas as inscrições para a oficina Desenho em Diário Gráfico por Paulo J. Mendes.
Mais informações no site da Bedeteca.
Até ao próximo Boletim!